Por que sou a preta metida?

by - abril 02, 2018

Me fiz essa pergunta diversas vezes. E não é de hoje, até me culpava por não ser tão simpática como os outros esperavam de mim, eu botava a culpa até no signo.

Esse adjetivo me acompanha desde a infância, não é exclusividade minha não, outras mulheres pretas também já foram chamadas assim. E por que isso?
Bem, numa sociedade racista, a preta que se posiciona, fala com propriedade, inteligente e não subserviente, que frequenta lugares legais, que escreve, que se veste de acordo com a moda, que viaja, que tira foto de si mesma e posta, que fala bem...é considerada metida. Está fazendo as mesmas coisas que outras mulheres, mas se é preta...as pessoas se espantam!!!

A sociedade está acostumada a ver mulheres negras ocupando espaços de subalternidade, cria-se um padrão social e esperam que toda mulher preta seja igual. Quando não servindo ou limpando, esperam que sejamos iguais aos personagens caricatos de novelas, como: a preta que fala alto, barraqueira e cuviteira.

Quer ver algo, que sempre acontece comigo e que não há um outro motivo aparente que não um desses esteriótipos que criam para nós?
Sempre que entro num estabelecimento, seja ela qual for (roupas, calçados, padaria, farmácia...etc), SEMPRE me confundem com a vendedora! Posso estar de preto e as vendedoras da loja estarem de rosa fluorescente com a famosa frase, "posso ajudar?", que serei confundida com alguém que trabalha ali naquele local. Não me veem como consumista, me veem como vendedora (sem desmerecer essa profissão, claro). Perdi as contas de quantas vezes, por mais "bem vestida" que eu possa estar, tive que responder: Não, não trabalho aqui!

Por muito e muito tempo, questionei minha inteligência, minha capacidade, me comparava a outras mulheres e me via inferior, mas isso mudou meus caros, a preta metida aqui vai ocupar lugares que muitos acreditam que não devam ser ocupados por nós. Seguiremos firmes quebrando o senso comum.
Pretas, a única maneira de quebrar essa imagem é começar a reagir, é não aceitar que duvidem de nossa capacidade, é estudar, ler cada vez mais sobre tudo que envolva negritude, é não aceitar piadas. Isso que faço aqui, escrever, é uma ato revolucionário sim, é a forma de dizer que não seremos mais silenciadas. Não vão mais nos subestimar.

Independente da classe social, nós mulheres negras temos vivências muito parecidas e se tem uma coisa em comum que mais nos uni é a necessidade de provarmos que somos boas naquilo dez vezes mais que qualquer outra pessoa.

Os tempos mudaram, aceitem: Nós vamos ocupar todos os lugares que a gente achar que deve.




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