Anos 90 e algumas de minhas frustrações pela falta de representatividade.

by - fevereiro 18, 2018

Hoje acordei meio saudosa, lembrei da minha infância e consequentemente as influências dos anos 90. Selecionei alguns fatos que me marcaram ainda quando criança. 

Em festa infantil, se não tocasse É o Tchan, não tinha nem graça. Dançava e cantava TODAS!

Lembro-me que logo quando o Gera Samba que mais tarde vinha a se tornar o É o tchan surgiu eu ganhei da minha mãe a roupa igual da Débora Brasil (dançarina negra da formação original), e eu me sentia tão feliz, me achando a própria.
 

Mas logo viria a primeira frustração, Débora foi trocada pela Sheila Carvalho, mulher branca de cabelos pretos, a chamada Morena do Tchan. Lógico que eu enquanto criança não entendia que aquele sentimento de não pertencimento que sentia era algo que eu entenderia nos dias de hoje, chamado falta de representatividade. Brincar de ser a dançarina do grupo já não era mais tão confortável já que tinha que escolher ser a Sheila que eu julgava ser a que mais se aproximava de mim, pelo cabelo preto (risos). Hoje sei que a substituição da Débora Brasil tem relação com o embranquecimento dos grupos de Axé e a passabilidade, aceitação pela sociedade quando essa prática é realizada.

Como a maioria das crianças dos anos 90, eu amava a Xuxa e meu sonho de princesa sem dúvida era ser sua paquita. Lembro-me que quando abria concurso para nova paquita, eu ficava pensando numa forma de quando eu crescesse mais um pouco me inscrever mesmo tendo a noção que paquitas negras não existiam. 
Ainda na última fase de paquitas que acompanhei uma esperança ascendeu em mim quando no concurso entrou uma menina branca de cabelos escuros, a Chaveirinho, nossa! Eu achei que minhas chances estavam próximas. Porque a desculpa na época, era que tinha que parecer com a Xuxa e por isso eram todas loiras. Mas agora tem a morena, uma paquita negra não haverá problema,pensei. Fui trouxa! A TV brasileira sempre foi racista e pensar numa representante negra era algo que nem se passava em suas cabeças enquanto pessoas brancas que tinham poder de escolha e decisão.

No auge dos anos 90, os desenhos da Disney eram sucesso sem dúvida. Perdi as contas de quantas vezes eu vi a fita do Rei Leão, era meu preferido sem dúvida! Hum, hoje posso afirmar que não era por acaso, já que se passava na África. E as princesas? Em 75 anos de existência dos Estúdios Disney, nenhuma princesa negra. Nenhuma! Em 95 Disney lança Pocahontas!!! OMG, eu era fascinada por ela. Minha preferida! Eu queria boneca, eu jogava o jogo dela no videogame repetidamente. Eu me identificava com ela, uma personagem Indígena, porque na ausência de princesa negra, tínhamos uma que chegava perto do meu tom de pele. 
Representatividade é muito importante, sabemos que gosto é construção social, enquanto sociedade não gostamos de nada por acaso, é um conjunto de influências culturais, sociais, dos meios de comunicação ou midas sociais (Tv, cinema,jornais, revistas...). E para nós pessoas negras, não nos ver representadas influencia diretamente em nossa autoestima e no auto ódio, internalizamos ainda na infância que pessoas legais, bonitas, bem sucedidas, dignas de amor, de merecimento são pessoas brancas, mesmo pessoas negras representando 54% da população desse país.

Por isso, mães e pais ou responsáveis de crianças negras é muito importante a compra de brinquedos, material escolar, roupas, decoração, filmes, desenhos com temática negra, livros com autores negros, mesmo o mercado sendo tão escasso, hoje já é possível encontrar algumas opções.

Temos que mudar essa realidade que se estende até hoje,é só ligar a TV e contar quantos negros você vê em local de destaque.

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