A quem estamos homenageando hoje (08/03)?

by - março 08, 2018

Farei um breve panorama do avanço dos primeiros movimentos feministas no Brasil e a reflexão da ausência da mulher negra nesses espaços. Caso se pergunte para que existe feminismo negro, acredito que o texto abaixo também vai te ajudar a entender.


Onde estavam as mulheres negras na luta pela igualdade de gênero?



Os primeiros movimentos feministas no Brasil, surgem no século 19. O Brasil nesta época era uma sociedade baseada na escravidão que oprimia mulheres negras na sua condição de escravizada.

Ou seja, enquanto mulheres brancas classe média, estavam lutando por educação feminina e direito de voto, mulheres negras era submetidas a trabalho desumano como bem conhecemos.



Em 1916, com a chegada da República, este novo regime não concede o direito de voto ás mulheres nem facilita a ida destas mulheres ao mercado de trabalho (mulheres brancas de classe média urbana ou rica), já a mulher negra, a indígena sempre tiveram que trabalhar para sobreviver. Após a abolição da escravatura, mulheres negras continuaram nas fazendas de seus senhores de engenho para não morrerem de fome.



Mulheres brancas em 1916, lutavam pelo divórcio que foi negado. A mulher casada precisava da autorização de seu marido para viajar, trabalhar fora de casa ou adquirir patrimônio. Onde estava a mulher negra? Se ao menos família tinha, casamento, filhos? Foram separados, vendidos e suas famílias desfeitas. 


Na Era Getúlio Vargas (1930 a 1945), a imagem da mulher consagrada pelo Governo Vargas será a mulher que realiza trabalhos como enfermeira, professora, secretária e claro esposa dedicada ao lar. Consegue ver a mulher negra ocupando esses espaços? Hoje em dia ainda é bem menor o acesso de mulheres negras a faculdade ou escolas imagina em 1930?

Somente na década de 60, mulheres brancas começam a discutir questões específicas sobre a mulher negra e indígena, porém a ditadura militar atinge em cheio movimentos sociais da época e essas discussões são interrompidas. 

Fazendo essas pesquisas, lembrei-me de um trecho do livro de Angela Davis (Mulheres, raça e classe), onde ela conta que: “Sojourner Truth (mulher negra) sozinha salvou a reunião de mulheres de Akron do escárnio dos homens hostis. De todas as mulheres assistindo à reunião,ela foi capaz sozinha de responder agressivamente aos rudes e provocadores argumentos da supremacia masculina, o líder dos provocadores argumentou que era ridículo que as mulheres desejassem votar, quando não podiam sequer atravessar uma poça de água, ou entrar numa carruagem sem a ajuda de um homem. Sojourner Truth apontou para fora desse argumento com a simplicidade de que ela nunca foi ajudada a atravessar poças de água nem a entrar em carruagens “e não sou eu uma mulher?”. Com uma voz com um trovão ela disse “olhem para mim! Olhem para os meus braços” e enrolou as suas mangas para revelar os remendos músculos dos seus braços. “Eu lavrei, plantei, e ceifei para celeiros e nenhum homem podia ajudar-me! E não sou eu mulher? Podia trabalhar tanto e comer tanto como um homem – quando podia fazê-lo – e suportar o chicote também! E não sou eu mulher? Dei à luz treze crianças e vi a maior parte delas serem vendidas para a escravatura, e quando chorei a minha dor de mãe, ninguém senão jesus me ouviu! E não sou eu mulher?”

Onde estamos agora?

Pesquisas nos mostram alguns números, são eles:

De acordo com o Disque 180, as mulheres negras representam 58,8% das vítimas em casos de violência doméstica. 

Somos também 65,9% das que sofrem com a violência obstétrica, como aponta a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Já o Ministério da Saúde mostra que nós morremos mais em decorrência do parto: são 53,9% dos casos.

Enquanto a mortalidade de mulheres não negras teve redução de 7,4% no intervalo analisado – atingindo 3,1 casos para cada 100 mil mulheres –, o número de mortes de mulheres negras aumentou 22% no mesmo período – chegando a 5,2 ocorrências para cada 100 mil mulheres.

O que também se verificou foi o crescimento na proporção de mulheres negras que morreram no Brasil entre o total de mulheres vítimas de mortes por agressão.

Concluímos que, a combinação entre desigualdade de gênero e racismo é extremamente perversa e nos possibilita compreendermos a violência contra a mulher, no país. Temos que fazer recorte social e racial senão não há avanços. Não adianta lutar por igualdade, equidade feminina se mulheres negras estão a margem. Precisamos que nos vejam/reconheçam como mulheres também e assim criem medidas para interromper nosso extermínio.

Somos duplamente oprimidas pelo machismo e pelo racismo, mas...Mulheres negras resistem e continuaremos lutando para que nossas vozes não sejam silenciadas mais. Há muita luta pela frente e não vamos desistir, essa palavra não nos cabe.










Sites consultados:

http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2017/11/mulheres-negras-acumulam-piores-indicadores-sociais-no-brasil
https://claudia.abril.com.br/noticias/atlas-da-violencia-taxa-de-homicio-mulheres/
https://www.todamateria.com.br/feminismo-no-brasil/













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