Colorismo, o que é? Como funciona? - por Eduarda Gonçalves (Série #pretaescritora)

by - junho 19, 2018

Hoje o texto é da Eduarda Gonçalves, 19 anos, estudante de Jornalismo, mineira, apaixonada por fotografia e por histórias. 

Eduarda é criadora do blog: https://falacolega.wordpress.com

COLORISMO

Muitos não sabem especificamente de onde vieram, ou seja, a origem de nossas famílias, de nossos antepassados. Quando passei a viver e conviver com negros, percebi que eu não era tão negra assim… mas, quem é negro no Brasil? E o assunto mais debatido é o negrômetro. O que nos leva ao tema de hoje que aborda vertentes desde colorismo, pigmentocracia a miscigenação.



Apesar de ser negra, não possuo traços verdadeiramente negros, pois, há toda uma miscigenação no passado da minha família, e eu não me encaixo nos padrões de cores estabelecidos.

Fala-se então sobre, colorismo. O colorismo, surge como um tipo de discriminação baseado na cor da pele onde, quanto mais escura a tonalidade da pele de uma pessoa, maior as suas chances de sofrer exclusão em sociedade; há uma escala cromática e capilar dentro da comunidade preta, onde, quanto mais claro o indivíduo for, com menos traços, mais ele será aceito, tolerado, dentro da ótica racista, enquanto que, quanto mais retinto, com traços marcantes, mais racismo e preconceito você irá sofrer. Assim, o termo de pigmentocracia, que diz:
“Pessoas de pele mais clara desfrutam de privilégios substanciais que ainda são intangíveis aos seus irmãos e irmãs de pele mais escura. Na verdade, pessoas de pele clara ganham mais dinheiro, frequentam por mais tempo a escola, vivem em bairros melhores e casam-se com pessoas de maior status social do que pessoas de pele mais escura da mesma raça ou etnia.” (Hunter, Margaret. The Persistent Problem of Colorism: Skin Tone, Status, and Inequality.)



E para serem toleradas na sociedade racista e discriminatória, as pessoas negras viram-se forçadas a praticar o mimetismo, para terem acesso a espaços dos quais eram excluídos e rejeitados. Os alisamentos capilares nasceram desta necessidade de camuflar a própria presença, de se tornar mais do mesmo, imperceptíveis na branquitude para garantir a sobrevivência pois, o colorismo cria a ilusão da inserção da população negra meio a população, quando na verdade, a pele escura é reconhecida como negra e rejeitada em qualquer circunstância, qualquer situação. E o colorismo afeta diretamente o sujeito negro, e cria uma rivalidade entre os mesmos, em busca da pela mais clara, para ser mais aceito. 



E, que existe racismo sabemos, mas que existe uma hierarquia de cores tanto na sociedade, quanto dentro dos grupos negros, é algo horrível. O fato, contudo, é que a construção da inferioridade do negro foi tão bem estruturada durante os séculos que, até hoje, a estrutura social favorece a continuidade da discriminação racial em suas mais variadas formas, inclusive, pela cor da pele (colorismo). Por exemplo, o colorismo atua com algumas diferenças, como por exemplo, a visão de uma celebridade preta de pele clara nos EUA e no Brasil, mesmo que sofra branqueamento estético (Mariah Carey), continuará sendo classificada como preta, tanto pelos pretos quanto pelos brancos, mas não é o que acontece com Anita, que sofreu branqueamento estético e elitização – o que muitos devem o seu sucesso -, assim, teve sua racialidade alterada. E na teoria, se Anita é negra, ao colocar Box Braids, não seria acusada de Apropriação Cultural, mas não foi o que aconteceu… 



Somos mestiços – frutos de uma interação racial ora genuína, ora forçada.

Me considero mestiça e tenho consciência sobre, e carrego uma tonalidade e traços menos expressivos. Temos que entender que nossa origem, não altera a origem de nossa raça. Ser negro não é um sentimento, muito menos uma vontade. Ninguém acorda querendo e se sentindo negro e passa a ser. Precisamos entender que raça, não no quesito biológico, mas no quesito social, impacta (e muito) indivíduos negros.

o que é negro?

“Os que têm a pele escura, é claro. Mas, e os outros, que descendem de pretos, mas também descendem de brancos… ou não poderiam ser mulatos? A população brasileira comporta 45% de negros, não perguntam, a ninguém, se é negro ou não! Perguntam, apenas, pela cor ou raça, que já vem pré-dividida em preta, parda, branca, amarela e índia! Assim sendo, a definição de negro não é estatística: é social. São os intérpretes que, unindo pardos a pretos, totalizam em negro as duas cores apontadas.”
o que é branco?

O que entendemos como brancos são os brancos de padrão europeu, mas, o que acontece é que, o branco brasileiro categoriza a si mesmo no seguinte padrão: quanto mais longe do que considera negro, mais branco és.

A pesquisadora e doutora Lia Schucman em sua tese de doutorado Entre o “encardido”, o “branco” e o “branquíssimo”: Raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana coletou em uma das suas entrevistas o seguinte depoimento ao perguntar se existe e era possível determinar uma escala de brancos:

“Tem branco que a pele é branca, o cabelo é escuro e crespo. Tem o branco que tem o cabelo escuro, mas liso, olho claro. Tem um branco que tem cabelo castanho claro, mas crespo. Acho que o cabelo crespo tá sempre pior, o cabelo liso é o sonho de consumo.”

Se você quiser saber mais sobre colorismo, tem um vídeo da Nátaly Neri, do canal Afros e Afins, que diz sobre.

E, você? Sabe sua origem, ou sua raça além das barreiras do IBGE?

Eduarda Gonçalves


Série #pretaescritora - Uma iniciativa criada no instagram do blog @pretadiz que visa dar não só visibilidade como também incentivo para que outras mulheres negras escrevam suas próprias histórias e narrativas.

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